
A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM MULHER NO MOVIMENTO MODERNISTA
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como proposta discutir a representação do feminino no movimento modernista, por meio do estudo da relação de gênero e suas representações nas artes plásticas.
Estabelecemos como objetivo geral um artigo que contribua para os estudos da mulher na sociedade paulista nas primeiras décadas do século XX. Escolhemos duas das principais artistas do movimento modernista, Anita Malfatti e Tarsila do Amara.
A ascensão artística dessas duas mulheres só é possível se considerarmos o estudo do movimento feminista da passagem do século XIX para o XX que reposiciona o lugar da mulher na esfera pública e não mais ao papel reservado restrito a esfera privada.
O movimento modernista brasileiro e as artistas Anita Malfatti e Tarsila do Amaral Embora o Modernismo tenha sido um movimento de muitas tendências artísticas, o seu objetivo era olhar sob uma nova perspectiva a realidade brasileira e todas as transformações e modificações ocorridas na virada do século XIX e no início do século XX.
Neste contexto, a imagem da mulher também se transforma. Sob a inspiração de novos modelos estéticos, a imagem do feminino abre espaço para novas tendências imagéticas.
Se os retratos femininos que até então enfeitavam as salas das fazendas e os salões dos casarões das cidades, retratavam as mulheres poderosas e as matriarcas com pouca vaidade e ares austeros no final do século XIX, com a nova estética iconográfica modernista, as mulheres passam a ser retratadas face a criatividade do autor.
A mulher no Modernismo é apresentada em toda a sua diversidade étnica, social, cultural, ou seja, são retratadas das lavadeiras às retirantes, das camponesas às damas de sociedade, das amas de leite às prostitutas, enfim, toda a gama feminina exposta em meio à sociedade. As mulheres tiveram papel central no Modernismo, não somente como temas artístico e social, mas também como protagonistas.
Embora Anita Malfatti e Tarsila do Amaral são as artistas que tiveram maiores destaques e até hoje têm seus nomes identificados com o Modernismo brasileiros, outras mulheres também se destacaram no movimento, como a pintora Zina Aita, a pianista Guiomar Novaes, a escritora Patrícia Galvão – A Pagu – e a grande mecenas e incentivadora dos modernistas Dona Olivia Guedes Penteado, viúva do fazendeiro de café Ignácio Penteado.
Exaltada pelos modernistas e incompreendida por grande parte dos críticos e do público da época, Anita Malfatti é uma das maiores expoentes da arte moderna brasileira. A sua exposição de 1917, choca e rompe com os paradigmas sobre a arte brasileira da época, depois da crítica avassaladora de Monteiro Lobato sobre a sua exposição, jovens intelectuais e artistas, os futuros modernistas como Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida e Mario de Andrade, partem em defesa da artista.
E é juntamente com estes intelectuais e artistas modernistas que Anita será uma das protagonistas da Semana de 22. Embora tenha chegado a São Paulo quatro meses após a Semana de 22, em junho de 1922, Tarsila do Amaral se confunde com a própria história do Modernismo. É por intermédio de Anita Malfatti que Tarsila conhece Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade, e é com estes novos amigos que a pintora irá se “converter” ao Modernismo brasileiro tornando-se uma de suas maiores expoentes. É de Tarsila obras mais reverenciadas do Modernismo como Abapuru (1928) e Antropofagia (1929).
Considerações Finais
As artistas Anita Malfatti e Tarsila do Amaral não se distinguem tantos de outras mulheres artistas ou intelectuais de seu tempo. No caso das duas artistas, eram mulheres da classe média alta ou da elite brasileira, que por obterem mais oportunidades e acessos que a maioria das mulheres no Brasil, puderam dedicar muito de seu tempo ao conhecimento e as artes. Suas representações do feminino refletem também seus valores burgueses e seus ideários.
É nessa realidade da expansão cafeeira e do progresso fremente e desordenado de São Paulo das primeiras décadas do século XX que as artistas vivem, trabalham e constroem um imaginário sobre a mulher.
Embora essas mulheres sejam fruto das mudanças sociais e culturais de sua época, cada uma a sua maneira, romperam barreiras e preconceitos morais e sociais, ousaram em sua arte e em suas vidas e contribuíram de alguma forma para a percepção e expressão de gênero e a construção de novos papeis sociais nos quais as mulheres são protagonistas hoje.
Por: Sonia Regina Silva
REFERÊNCIAS
AMARAL, Aracy A. Artes Plásticas na Semana de 22. 5ª Edição revista e ampliada. São Paulo, Editora 34, 1998 – 3ª reimpressão 2005.
Tarsila sua Obra e seu Tempo. São Paulo, Editora 34, Edusp, 2003.BATISTA, Marta Rossetti. Anita Malfatti no Tempo e no Espaço. São Paulo, Editora 34, Edusp, 2003 COSTA, Cristina.
A Imagem da Mulher um Estudo da Arte Brasileira. Rio de Janeiro, Editora Senac Rio,
2002.